Atletas sofrem com sintomas pós covid
A mãe, o tio e mais cinco familiares. "Vi muitos caixões nos últimos sete meses", lamenta Karl-Anthony Towns
Karl-Anthony Towns, número 1 do draft de 2015 da NBA que é uma das grandes estrelas dos Minnesota Timberwoves, admite que nova época vai ser a mais difícil após perder sete familiares com Covid-19.
Estudos recentes apontam comprometimento cardiovascular, com inflamação do miocárdio, após recuperação da COVID-19. Nos atletas, a miocardite é uma importante causa de morte súbita.
Nesse sentido, um estudo da Universidade de Ohio buscou avaliar, por meio de exame de imagem, a função cardíaca de atletas após se recuperarem da COVID-19.
Como o estudo foi realizado
O objetivo do estudo se concentrou em avaliar o uso de Ressonância Magnética Cardíaca (RMC) na detecção de inflamação do miocárdio em atletas competidores, após recuperarem-se da COVID-19. Assim, os atletas com alto risco seriam identificados antes de retornarem aos jogos.
Os Atletas foram referenciados à uma clínica de medicina esportiva após terem sido diagnosticados com COVID-19. Após passarem pelo período de quarentena, os atletas foram avaliados com diversos exames:
- Ressonância Magnética Cardíaca;
- Eletrocardiograma;
- Troponina I Sérica;
- Ecocardiograma transtorácico.
Resultados dos exames após a COVID-19
Um total de 26 atletas participaram do estudo, com média de idade de 19,5 anos e 57,7% de participantes sendo do sexo masculino. Nenhum deles precisou ser hospitalizado devido à COVID-19, nem receberem terapia antiviral específica.
Doze atletas reportaram sintomas leves durante o período da infecção, enquanto os demais foram assintomáticos. Os atletas eram provenientes de diversas categorias esportivas: futebol americano, futebol, lacrosse, basquete e corrida.
Nos resultados dos exames de eletrocardiograma, ecocardiograma transtorácico e dosagem sérica de troponina, nenhum atleta apresentou anormalidades.
Já nos achados da ressonância magnética cardíaca, 4 atletas, todos homens, tiveram achados consistentes com diagnóstico de miocardite, pela presença de dois dos critérios de Lake Louise:
– Presença de edema miocárdico nas imagens ponderadas em T2;
– Presença de dano miocárdico não isquêmico com realce tardio pelo gadolíneo.
Dois destes atletas com diagnóstico de miocardite haviam apresentados sintomas leves da COVID-19, enquanto os outros 2 foram assintomáticos.
Discussão: miocardite em atletas na COVID-19
A Ressonância magnética cardíaca possui alto valor preditivo negativo para descartar miocardite. Sendo assim, torna-se ferramenta útil para rastrear e identificar atletas de alto risco, bem como indicar segura participação nos jogos.
Um estudo recente demonstrou envolvimento significativo do coração em pacientes recuperados da COVID-19. No estudo aqui discutido, dos 26 atletas, 4 obtiveram achados de RMC sugestivos de miocardite.
O estudo é importante pois põe à prova recente consenso de especialistas que recomendava o seguinte protocolo de volta às competições para atletas:
– Assintomáticos: 2 semanas de convalescência e nenhum exame diagnóstico cardíaco.
– Sintomáticos leves: Eletrocardiograma e Ecocardiograma transtorácico.
Porém, como foi demonstrado, os 4 atletas com anormalidades na RMC não possuíam achados anormais nos demais exames. A evidência de miocardite em RMC tem sido associada a desfechos negativos, incluindo disfunção miocárdica e mortalidade.
Conclusão
Estudos de longo prazo, com follow-up e população de controle, serão necessários para entender as alterações de RMC apresentadas, bem como para elaboração de estratificação de risco para atletas após recuperação da COVID-19.
Um pouco mai
Nenhum atleta da NBA sofreu tanto com a covid-19 como Karl-Anthony Towns
A vida ficou um tanto quanto amarga para Karl-Anthony Towns desde abril de 2020. Mais precisamente no dia 13 de abril, o jogador do Minnesota Timberwolves sentiu o mundo desmoronar com a morte da mãe Jacqueline Towns, vítima da covid-19. Ela foi contaminada cerca de um mês antes de perder a batalha para o vírus, que minou sua saúde rapidamente.
Enquanto a mãe do jogador piorava a cada dia, o pai, Karl Towns Sr, também infectado, teve rápida recuperação e conseguiu voltar para os braços da família. A morte de Jacqueline, nascida na República Dominicana, foi confirmada pela equipe do centro-oeste dos Estados Unidos.
"Jackie era muitas coisas para muitas pessoas - esposa, mãe, filha, avó, irmã, tia e amiga. Matriarca da família Towns, ela era uma fonte incrível de força; uma pessoa ardente, carinhosa e extremamente amorosa, que tocava a todos que conhecia", escreveu a família em trecho do documento.
A sexta temporada como jogador profissional na NBA será diferente. Na primeira fila, Towns não poderá entrar em quadra e dar o tradicional abraço em sua mãe, que comparecia em todos os jogos da franquia em casa. "Isso vai ser uma das coisas mais duras que vou ter de enfrentar", disse ele em entrevista à CNN americana.
"Isso sempre me trouxe muita alegria, poder olhar para o mesmo local e ver ela ali. Saber que ela estava feliz em me ver jogar. Vai ser muito duro entrar em quadra. O basquete era uma terapia para mim e tenho certeza que isso nunca mais vai acontecer. Ao mesmo tempo, isso vai me dar a oportunidade de relembrar boas memórias que tivemos juntos, mas não vai ajudar em nada no meu emocional ou algo do tipo", completou à NBC Sports.
Drama só aumentou e motivou críticas
Como se já não fosse o suficiente, Towns ainda sofreria bastante com a covid-19. Além da mãe, sua principal perda, o pivô teve de enfrentar mais seis mortes na família. Entre elas, a do seu tio, um ente bastante querido e próximo. "Eu tenho visto muitos caixões nos últimos sete meses", relatou o jogador.
O excesso de dor se transformou em inconformidade. Towns fez críticas abertas a membros de sua família e qualquer um que se encaixasse no perfil de pessoas que não estavam levando a pandemia a sério, mesmo com o devastador número de mortes causados pelo vírus.
"Eu conheço um monte de gente - na minha família e na de minha mãe - com covid-19. Eu sou o único que ainda procurou por respostas, tentando descobrir como manter a saúde. É muita responsabilidade sobre mim para manter minha família bem informada e fazer tudo o que é necessário para mantê-los vivos", desabafou.
O jogador tem sido bastante ativo nas suas redes sociais sobre o assunto. Seu objetivo é trazer detalhes dos bastidores da sua vida para criar uma conscientização sobre os problemas da covid-19 e como se prevenir do vírus.
Volta às quadras
Desde que sua mãe passou a ter complicações, Karl-Anthony Towns ficou sem cabeça para jogar basquete. Após a perda, então, sua profissão foi colocada de lado por um certo período. Com o time fora dos playoffs, o pivô ganhou mais tempo para preparar seu retorno com o início da nova temporada - e de uma nova vida.
Isso aconteceu no dia 23 de dezembro, na vitória sobre o Detroit Pistons, em casa, onde sua mãe certamente estaria sentada na primeira fila se estivesse viva e com público liberado. O triunfo ficou em segundo plano com a emocionante entrevista concedida pelo atleta após a estreia.
"Não me reconheço. (Essa vitória) Significou muito para mim. Digo, muito, muito mesmo. Eu olho para trás e não reconheço aquele cara de antes do dia 13 de abril. Vocês podem me ver sorrindo e brincando por aí, mas aquele Karl-Anthony Towns morreu naquela mesma data. Você pode falar comigo, mas só estou aqui fisicamente. Minha alma foi embora junto com ela", disse.
Após disputar dois jogos, Towns deslocou um dedo da mão esquerda na vitória sobre o Utah Jazz, no dia 26 de dezembro, e desde então ainda não entrou em quadra. Ele será reavaliado pela equipe médica ainda nesta semana para ter uma previsão mais exata de quando estará disponível.
Envie seu comentário