Primeira trans "Tifanny" da Superliga sonha com seleção brasileira de vôlei - Blog Casa Nova Esportiva

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Primeira trans "Tifanny" da Superliga sonha com seleção brasileira de vôlei

Abrimos espaço aqui no blog para essa história, algo novo que envolve sonho através do esporte!

Tifanny Pereira de Abreu já fez história no esporte brasileiro. Não por algum título no vôlei, mas por uma conquista na vida. Ela foi a primeira transexual a entrar em quadra por uma partida oficial da Superliga, principal campeonato de vôlei do Brasil. O resultado da partida - derrota do seu Vôlei Bauru para o São Caetano - foi o que teve menos importância. A maior conquista foi poder realizar um sonho após três anos de transição do sexo masculino para o feminino.

Nascida de uma família pobre de Goiás, Tifanny sequer conheceu o pai e teve que ajudar a família desde criança. Consciente de que não poderia contar com apoio financeiro em casa, foi pelo vôlei que vislumbrou a chance de realizar o maior sonho da vida: o de se tornar uma mulher por completo. Foi então que Rodrigo Pereira de Abreu saiu de casa em busca de dinheiro para fazer a transição de genêro.

Antes de jogar pela Superliga feminina, Tifanny entrou em quadra ainda como Rodrigo pela Superliga A e B no Brasil e em outros campeonatos masculinos nas ligas da Indonésia, Portugal, Espanha, França, Holanda e Bélgica. Quando defendia um clube da segunda divisão belga, resolveu concluir a transição de gênero, deixando o Rodrigo no passado.

– Eu já sabia o que queria e só estava esperando a hora certa, porque eu precisava também ter uma renda. Então eu precisei primeiro juntar uma boa grana para poder começar uma transição. Foi quando eu decidi parar de jogar o vôlei masculino para começar uma transição no final de 2012, ainda na Europa – conta.

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Ao conseguir o dinheiro para trocar de sexo – o custo total gira em torno de R$ 30 mil –, Tifanny abandonou a carreira no vôlei por não saber que poderia atuar por uma equipe feminina. A intenção era retornar ao Brasil após a transição e buscar uma nova carreira profissional.

– A transição foi fora do país porque eu achei que era mais fácil, até porque você tem acompanhamento médico grátis. Aqui é mais complicado de encontrar, mas eu não tinha pretensão de voltar a jogar vôlei novamente. Estava pensando em arrumar um emprego qualquer, depois que já não tivesse mais a minha renda. Mas aí recebi a proposta de jogar no feminino depois da minha transição completa, totalmente hormonizada e com os documentos para poder jogar no feminino. Não acreditava muito, mas como meu empresário entendia das regras do COI, tanto da confederação internacional, eu falei 'ok'. Já existiam outras jogadoras trans, só que elas não atuam em um nível tão alto como a Superliga, atuavam em ligas B. Se eu poderia continuar com o meu trabalho, porque ficar parada? Continuei fazendo minha transição normal e, quando já estava no ponto, decidi voltar ao vôlei.

Para poder ser liberada para atuar no vôlei feminino, Tiffany teve que comprovar que o nível de testosterona - hormônio masculino no corpo humano -, estava abaixo dos 10 nanogramas (ng), concentração média entre as mulheres. A de Tifanny é de 0,2 ng.

No início de 2017 Tifanny recebeu a permissão da Federação Internacional de Voleibol (FIVB) para competir em ligas femininas. Foi quando defendeu o Golem Palmi, time da segunda divisão da Itália. Após esse período, voltou ao Brasil e usou a estrutura do Vôlei Bauru para aprimorar a parte física de olho em um retorno a Europa. A ponteira recebeu uma proposta e aceitou defender o time do interior paulista. A liberação para atuar na Superliga veio dois dias antes da estreia oficial, no dia 10 de dezembro, após exames da comissão médica da Confederação Brasileira de Vôlei (CBV).

Segundo as regras do Comitê Olímpico Internacional (COI), um atleta não precisa necessariamente passar por uma cirurgia de mudança de sexo. No caso das mulheres, o controle do nível de testosterona é essencial para obter a liberação. Antes de ter conhecimento que poderia voltar a jogar vôlei, Tifanny admite que tinha preconceito sobre a presença de transexuais no esporte.


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– Como toda pessoa leiga que fala que acha que não é certo jogar, eu também achava que não poderia porque eu não sabia realmente que a força mudava. Depois de uma transição que fui ficar sabendo realmente que isso é diferente. Hoje em dia quando as pessoas falam, eu até entendo elas porque já pensei assim um dia, por não saber o que o hormônio faz no corpo da pessoa.




Tiffany se considera uma jogadora de força. Na estreia na Superliga, na derrota para o São Caetano, a ponteira anotou 11 pontos e mostrou o poder de ataque e a eficiência na entrada da rede. Com 25 pontos, comandou a vitória do Bauru sobre Pinheiros na noite da última terça-feira. A queda nos níveis de testosterona, porém, foi sentida pela jogadora, que admite ter mudado de característica ao longo do processo de transição.


"No feminino me transformei em uma mulher forte. Se eu fosse um menino fraco, me transformaria em uma mulher fraca. Você vai ser o que você era no masculino, dentro do feminino."
– Quando jogava com os meninos, eu também tinha essa testosterona alta e era muito forte. Quando comecei a fazer a transição, não era mais aquela atacante de força, já era uma atacante mais de preparação. Me adaptei e continuei jogando igual, por prazer. Todo time tem a mais forte e a mais fraca. Tenho um pouco o ataque mais fácil porque tenho essa característica de força, sempre fui uma atacante de força.

Relação com a família

Tifanny não conheceu o pai biológico, é a mais nova de sete irmãos e tem em sua mãe, Dona Amália, a grande inspiração para seguir a carreira. Mesmo sem ter estado com os familiares no momento mais importante da sua vida, demonstra gratidão pelo apoio na decisão que mudaria por completo a sua vida.
– Eu não tive um momento de contar pra minha família. Quando comecei a transição eu cheguei e falei. Minha família simplesmente me apoiou e me amou como sempre. Nunca tive nenhum problema, tenho uma família muito linda, maravilhosa e com muito amor, que é o mais necessário dentro de casa.
Tifanny Abreu é ativa nas redes sociais e não esconde a vaidade — Foto: Reprodução/ Instagram

Ela, que não gosta nem de ouvir o nome antigo, revela um detalhe curioso: ainda é chamada de Rodrigo pela mãe.

– Se gostasse do nome antigo eu não mudava, continuava com o mesmo e só mudava para o sexo feminino. Não gosto muito de Rodrigo, mas minha mãe às vezes erra, me chama pelo nome antigo. Não se acostumou ainda, porque querendo ou não fiquei toda a minha transição fora do país. Me indentifiquei muito mais com esse nome, o antigo não gosto porque me traz uma lembrança da pessoa que eu tentei esconder.

"Não gosto muito de Rodrigo, mas minha mãe às vezes erra, me chama pelo nome antigo"
O preconceito que insiste em fazer parte da sociedade atual foi sentido na pele por Tifanny quando ainda não tinha optado pela transição. Após a troca de sexo, porém, ela diz nunca ter sofrido qualquer tipo de ofensa. Pelo contrário, passou a despertar o interesse dos homens.

– Quando era homossexual, sim [sofreu preconteito]. Depois de ser transexual, não. Nunca senti nenhum tipo de preconceito, até porque o pessoal não achava que era trans, me confundiam com uma mulher alta e nada mais. Agora que estou na mídia, as pessoas sabem e o respeito vem junto. Nosso país está mudando e melhorando a cada dia que passa, estou recebendo muito amor.


Um novo sonho

Tifanny costuma dizer que a transição foi a realização de um sonho de criança. A estreia na Superliga e a oportunidade de atuar em uma equipe da elite do vôlei brasileiro fazem a jogadora sonhar ainda mais alto, um sonho dourado: o de vestir a camisa da seleção brasileira e ser campeã olímpica.
Tifanny Abreu sonha com convocação para a seleção brasileira — Foto: Marcelo Ferrazoli/ Vôlei Bauru

Companheira de Paula Pequeno, uma das atletas mais vitoriosas do vôlei nacional, Tifanny espera uma oportunidade do técnico José Roberto Guimarães. Porém, sabe que a convocação só vira caso esteja atuando em alto nível em um dos campeonatos mais competitivos do mundo.

– Toda jogadora de alto nível sonha com a seleção brasileira, ser campeã olímpica e temos várias no Brasil que conseguiram. Não sou diferente, tudo depende de mim. Se fizer uma boa liga, ter um bom desempenho, eu estarei nessa lista. Sem isso, não tem como estar no radar do Zé Roberto só por estar na mídia. Sem trabalho é impossível, temos a melhor seleção do mundo.

O grande desejo de Tifanny é de que todas as pessoas sejam felizes, independente das escolhas que façam na vida. E foi dessa maneira que encerrou a entrevista ao GloboEsporte.com:


– Eu pensava que a minha diferença entre uma menina e outra era apenas o cabelo. Meu sonho era olhar para o espelho e ter a certeza que essa era a Tifanny, agora ele está realizado porque sou uma menina completa. Vivam os seus sonhos, não deixem que pessoas vivam ele porque é você quem vai buscar. Peço para que as meninas não desistam, o amor vence sempre. O que importa é ser feliz.

E você o que pensa sobre esse assunto, nos mande sua opinião, escreve para callbaron@gmail.com


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